Foto: Arquivo Pessoal / JBR - Entrevista Luci Miranda
A jornalista Luci Miranda conversou com o médico Rafael Silva, professor há 15 anos da Universidade São Francisco (USF), na disciplina de Ciências Forenses e Medicina Legal, para entender o porquê de os corpos de vítimas da Covid-19 terem sido encontrados conservados, após três anos do sepultamento.
O assunto foi tema de reportagem feita pela jornalista, publicada na última edição do Jornal de Bragança e Região e, que teve grande repercussão. Por isso, nesta edição, o JBR traz uma entrevista com um profissional da área.
Luci Miranda: Qual a provável causa dos corpo estarem preservados após três anos do sepultamento?
Dr. Rafael Silva: A decomposição dos corpos é um processo que necessita da ação de bactérias do corpo e dos vermes que vêm das moscas, das vestes, do dia a dia e da fauna cadavérica (animais como ratos, insetos, baratas, etc). Então, quando você tem um corpo envolvido em uma espécie de vácuo, onde não tem oxigênio, e as bactérias e os vermes precisam de oxigênio também, você está isolando o corpo e gerando um processo de conservação por falta da ação desses agentes. Além disso, tem também o fator uso de antibióticos que esterilizam o corpo, atrasando a putrefação, esse processo de deterioração da matéria orgânica.
Luci Miranda: Em uma morte natural ou acidental, o corpo leva, em média, quanto tempo para se decompor totalmente?
Dr. Rafael Silva: Por volta de um ano. O tempo pode variar, principalmente devido a causa da morte, condições climáticas, ação da fauna e da flora e da flora cadavérica.
Luci Miranda: No caso desses corpo encontrados preservados totalmente, o senhor acredita que daqui três anos eles estarão em decomposição total?
Dr. Rafael Silva: Na hipótese de estarem no processo conservador, provavelmente não. Já fiz exumação de um jovem que ficou internado por 30 dias, fez uso de muito antibiótico e que após 10 anos da morte, ainda estava conservado.
Ao final, Dr. Rafael contou que existem na América do Norte, Inglaterra e Austrália, instalações ligadas ao Governo e Universidades, chamadas “Fazenda de Corpos”, onde o principal objetivo é estudar a influência de diversos fatores no processo de decomposição e conservação dos cadáveres. “Com essas informações catalogadas, a ciência pode explicar ocorrências como essas que geram comoção na nossa cidade”, finalizou.
Dr. Rafael aborda temas como esse no Instagram @_nekropolis.