Às vésperas do feriado de Nove de julho, a paciente Inês Pereira de Lima, de 54 anos, ficou indignada depois de passar por consulta com uma clinica geral no Centro de Saúde Dr. Lourenço Quilicci, no bairro Lavapés. Ela contou ao Jornal de Bragança e Região que se deparou com dois problemas durante a consulta: A dificuldade da médica em encontrar um receituário para lhe prescrever o medicamento imipramina, de uso controlado e a falta de guia de encaminhamento para um psiquiatra. “A médica disse que não tinha receituário, mas acabou achando um, depois de abrir as gavetas de todas as mesas do Posto. Mas o encaminhamento eu não consegui porque a médica disse que não tinha a guia”, relatou.
A reportagem do Jornal de Bragança e Região foi até o Centro de Saúde e observou desencontros nas informações. O chefe da unidade, enfermeiro Daniel Félix, afirmou que não há falta de talão e chegou a mostrar um, sem uso. “A gente tem, mas os médicos pegam o talão comigo, usam e depois me devolvem. Então pode ser que no momento da consulta a médica não tivesse mesmo”, afirmou.
O Jornal de Bragança e Região apurou que Daniel estava de férias no dia em que Inês passou em consulta, o que pode ter sido o motivo da falta do papel da receita.
Quanto à falta de guia de encaminhamento, uma médica que atendia naquele horário disse que o problema não é a falta de guia, mas sim de profissionais dessa especialidade. “Não adianta dar encaminhamento para psiquiatra porque não temos pra onde encaminhar. Não tem psiquiatra e está assim desde que a ABBC entrou”, disse ao pedir para não ser identificada.
A reportagem ligou para três Unidades de Saúde para saber sobre o agendamento de consulta com um psiquiatra. No primeiro Posto, Madre Paulina, a atendente disse. “Psiquiatra você tem de vir, passar com um clínico e ele dá o encaminhamento e a gente vê se consegue uma vaga, mas demora, viu! O encaminhamento fica com a enfermeira e ela fica solicitando uma vaga em todos os locais até conseguir. É que só tem um psiquiatra na Rede”, frisou.
Na Unidade Parque II, a atendente disse que o paciente precisa passar antes com a psicóloga. “Tem de vir na quinta-feira, às 9h. È só chegar e esperar que ela atende, é livre demanda”. Já no Posto de Saúde da Vila Davi, a atendente orientou a passar com um psicólogo e não soube falar sobre a falta de psiquiatra.
O Jornal de Bragança e Região conversou com a secretária de Saúde, Grasielle Bertolini sobre a denúncia de falta de receituário e de especialistas em psiquiatria na Rede Municipal. A secretária afirmou que não há falta de receituário. “Há um rígido controle, já que se trata de receita de medicamentos controlados. Inclusive, em caso de perda de uma folha desse receituário, a gente orienta a fazer boletim de ocorrência”, disse.
Quanto à falta de profissionais na área de psiquiatria, Grasielle, explicou que são 05 profissionais que atuam na Rede, sendo 02 concursados; 01 contratado pela ABBC e outros 02 são de um convênio firmado com a Universidade São Francisco. Desse total, 03 atendem consultas, sendo um na Unidade da Santa Luzia e Vila Aparecida; outro atende no Ambulatório de Especialidades e o terceiro atende todas as unidades e é o responsável pelo matriciamento, ou seja, que analisa os casos e encaminha o paciente para o tratamento adequado.
Outros dois psiquiatras são fixos, sendo que um deles atende pacientes do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e pacientes de Álcool e Drogas. Já o outro presta atendimento na Saúde Mental Infantil e Espaço do Adolescente.
Como funciona
Para ser atendido por um psiquiatra é necessário passar primeiro em consulta com um clínico geral ou psicólogo. Se estes profissionais entenderem que, de fato, o paciente necessita de um psiquiatra, farão o encaminhamento. Em casos de surto, por exemplo, a orientação é levar o paciente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Lá ele será medicado para interromper a crise e encaminhado, de acordo com a urgência e necessidade, para o tratamento ideal, podendo o nome ficar na Central de Vagas.
Quanto ao número de psiquiatras disponíveis, a secretária afirma. “Não é o número ideal porque as demandas da saúde mental estão crescendo cada vez mais na sociedade.
Os cinco psiquiatras dão conta, mas é óbvio que a gente precisa de mais e esse é o desafio. Por isso temos uma política com metas a serem atingidas até o final do ano”, disse ao ressaltar. “O CAPS foi uma importante conquista, que tem a proposta de acolhimento e tratamento dos pacientes de acordo com sua necessidade”, explicou ao dizer que por dia são cerca de 80 pacientes atendidos pelo CAPS, cada um com uma proposta.
Ao encerrar, a secretária fez uma comparação. “Nós temos um mar de necessidades e uma piscina de possibilidades. Um mar não cabe dentro de uma piscina”.