Na coluna deste mês, teremos a entrevista com uma das atrizes mais consagradas no cinema e no teatro, Denise Weinberg, que está em cartaz no SESC Pinheiros com a peça “O Testamento de Maria”, de Colm Tóibín. Com direção e adaptação de Ron Daniels a peça fica em cartaz de 7 de janeiro a 13 de fevereiro (quintas, sextas e sábados), às 20h30, no Auditório (3º andar) da Unidade. Os ingressos vão de R$ 7,50 (credencial plena do SESC) a R$ 25,00 (inteira).
Em “O Testamento de Maria”, o escritor e jornalista irlandês Colm Tóibín dá voz a Maria, uma mulher pobre e perseguida que busca desvendar os mistérios que cercam a crucificação de seu filho. Ela encara não só a imensa crueldade dos romanos e dos anciãos judaicos, a estranha e inexplicável exaltação dos discípulos a seu filho, como também suas próprias angústias e hesitações.
JBR: Denise, como está sendo fazer Maria em o “O Testamento de Maria”?
DW: A Maria, deste autor irlandês maravilhoso Colm Toibin, é bem diferente da Maria que todos os católicos e a Igreja idealizaram, por ser uma mulher comum, como qualquer outra mãe, preocupada com a segurança e com a vida do seu filho. Isso que torna esta peça singular, pois Toibin constrói uma Maria extremamente humana, uma mulher simples, que não entende o que está acontecendo com seu filho, rodeado por aqueles seus seguidores, que não passavam de uns rapazes desajustados, soltos no mundo e que vê perplexa, o filho se envolvendo em discursos, milagres, feitos heróicos, se distanciando cada vez mais dela, perambulando pelas ruas querendo doutrinar as pessoas, e isso para ela é meio absurdo, não tem a conotação do divino e tampouco a figura dela tem a conotação de pureza que depois a Igreja deu à figura da mãe de Jesus.
JBR: E como é dar voz e vida nos palcos a este personagem que é tão importante para a igreja católica?
DW: É um presente divino. Nossa preocupação durante os ensaios foi construir uma Maria sem divinização nenhuma, sem heroísmo nenhum, muito pelo contrário, Tóibin nos faz ver um ponto de vista de Maria, que nunca foi antes comentado; o ponto de vista do sofrimento, da perplexidade, da indignação de uma mãe, diante da crucificação de um filho e sua impotência perante todo aquele horror. E a partir de então, a história de Jesus é compartilhada por um ponto de vista diferente, o que leva a plateia a refletir sobre muitas questões.
JBR: Qual foi a maior dificuldade que você encontrou na composição do seu personagem?
DW: Foi manter o tempo todo, as palavras vivas na minha boca, sendo criadas naquele momento em que estou falando, sem nenhum vestígio de decoreba ou impostação. Trabalhamos muito em cima desse “meu à vontade” com aquele ponto de vista, com aquelas palavras, com aqueles sentimentos e por uma hora e dez minutos, uma história quase épica é contada por uma atriz e um músico, Gregory Slivar, que fica tocando ao vivo, ajudando àquelas imagens todas ficarem muito claras para a plateia. Isso resulta numa história interessantíssima.
JBR: Como está sendo trabalhar com Ron Daniels? Já haviam realizado outros trabalhos anteriormente?
DW: Trabalhar com Ron Daniels foi resgatar de novo o meu oficio de atriz de teatro, pois confesso que estava bastante desanimada diante da banalização do oficio de ator. Eu brinco com ele, que ele foi uma injeção de adrenalina na minha vida, e foi mesmo um belo encontro pra nós dois.